A realização de qualquer processo de composição artística pressupõe um universo de referências e informações que são articuladas (ou desarticuladas) com vistas à elaboração de uma nova estrutura. Esta nova proposição de elementos, conhecidos e desconhecidos, trará consigo novos significados e proporcionará uma abertura ao espectador interessado em seu desvelamento.
O contato com algumas das proposições musicais de Flávio Oliveira revelou-me possibilidades de pensar sua prática como intenção direcionada para este envolvimento com o ouvinte, na medida em que opera com elementos de um repertório conhecido, dos quais se apropria para apresentá-los em um novo contexto.
Esta é uma prática bastante utilizada na contemporaneidade. O conceito de apropriação, e os de citação e releitura dele advindos, caracterizam procedimentos operacionais no âmbito artístico em geral, desde os inícios da modernidade. Evidenciam-se como produção crítica, na medida em que operam com referências históricas e culturais. O artista não está simplesmente fazendo "recortes" e juntando-os uns aos outros e com novas ideias desenvolvidas. Está apresentando uma nova forma, elaborada e pensada como um todo, onde cada parte cumpre uma função e dialoga com as outras, de acordo com a estruturação pretendida.
Se, em algumas composições, Flávio Oliveira utiliza elementos já conhecidos e situados historicamente no âmbito da música, em outras nos propõe o novo, entendido como a forma que o artista nos apresenta pela primeira vez. Mesmo então, a prática de ouvir suas composições poderá conduzir-nos à elaborações de caráter reflexivo.
Flávio Oliveira opera, em suas criações, com uma vasta memória musical formada durante anos de estudo e vivência da música. Seu trabalho nos revela uma grande mobilidade entre estilos de diferentes épocas, diferentes autores e um grande conhecimento de repertório e de processos criativos engendrados em diversas situações circunstanciais. Este conhecimento é aproveitado como força produtora, possibilitando ao compositor a manipulação de diferentes linguagens e a criação de grande variedade de formas e ideias musicais. Este CD nos dá uma mostra disto. Apresenta-nos várias formas de composição, com características distintas e peculiares, que também nos remetem a diferentes tipos de linguagem musical.
A música de Flávio Oliveira manifesta uma atitude reflexiva, propondo também ao ouvinte/espectador uma forma de desenvolver e ampliar referenciais. Vale dizer que esta atitude reflexiva, implícita em suas composições e por elas desencadeada, como já referido, se faz num campo crítico, por vezes histórico-crítico, histórico-social... De qualquer forma nos traz sempre, e quem sabe sobretudo, uma reflexão sobre a própria música e sobre o fazer musical, especialmente na contemporaneidade. É somente através do trabalho artístico e de sua apreciação que poderemos formular uma compreensão abrangente da arte de nosso tempo, já que a definição de contemporaneidade e de como, nela, se manifestam as diferentes linguagens artísticas tem sido tarefa complexa. O trabalho de Flávio Oliveira é valiosa contribuição para nos auxiliar neste intento.
Profa. Dra. Andrea Hofstaetter - Departamento de Artes Visuais – Instituto de Artes-UFRGS
CD Tudo Muda – A Música de Flávio Oliveira
Intérpretes:
Artur Elias - flauta
Caio Pagano - piano
Carla Maffioletti - soprano
Carlos Rodriguez - barítono
Catarina Domenici - piano
Diego Grendene - clarinete
Flávio Oliveira - piano
Gabriela Vilanova - viola
Guilherme Goldberg - piano
Ion Bressan - regente
Javier Balbinder - oboé
Júlio Rizzo - trombone
Lúcia Carpena - flauta doce
Ney Fialcow - piano
Norma Rodrigues - harpa
Olinda Alessandrini - piano
Raul Costa D’Avila - flauta
Rodrigo Bustamante - violino
Telmo Jaconi - violino
Vânia Dantas Leite - sintetizador
Wenceslau Moreira – violoncelo
Ficha Técnica
Tomada de Som – Marcelo Sfoggia e Marcos Abreu; Teatro da PUCRGS;
Pianos Steinway (modelo D) e Petroff – Salão de Atos da PURGS
Edição – Flávio Oliveira e Marcos Abreu
Mixagem e Masterização – Marcos Abreu
Produção executiva, Musical e Direção Artística – Flávio Oliveira
Foto do compositor – Jornalista Maria Luísa Paim Teixeira
Arte do Encarte – Felix Bressan e Cristina Ferrony
Fotolito – VS Digital – Ltda.
Imagem da capa – Klee, Paul . Übermut. Allegorie der künstlerischen Existenz.
Financiamento - Projeto FMPROARTE – SMC/PREFOPA – Porto Alegre, RS – Brazil 2002.
Apoiadores: USINA DE TRABALHO DO ATOR, Frederico Gerling Jr., Adriana de Almeida, Salão de Atos da PUCRGS e PROREXT – UFRGS. Distribuição – Selo Barulinho – Carlos Branco.
Contato para aquisição do CD: floliva@terra.com.br
Contato para aquisição do CD: floliva@terra.com.br
Pode de me chamar de entrometido, mas me dei o direito (honroso) de me colocar como "Seguidor" deste Blogg, de bom gosto e com certeza trará boas "coisas", pois tenho o previlégio de conhecer muito bem a tua querida "pessoa".
ResponderExcluirUm abraço e beijos, de Ricardo e Fatima.